[PARTE 2: FLUIDEZ] 9 Dicas de PERMACULTURA que Podes Aplicar JÁ e Sem Experiência Prévia

Nesta série de artigos vamos te mostrar práticas que utilizamos em permacultura que não só poupam tempo, esforço, recursos e dinheiro, mas que ao mesmo tempo são parte de uma prática regenerativa, ecológica e mais sustentável que se pode e DEVE fazer em casa.

Não requer conhecimento ou experiência prévia em agricultura biológica ou permacultura, apenas vontade de ter uma rotina mais harmoniosa com os processos naturais que já ocorrem à nossa volta, aproveitar processos e recursos que já acontecem nas nossas casas e optimizar o nosso tempo e os nossos recursos.

 

Nesta PARTE 2 vamos falar sobre dicas para melhorar os resultados do que já fazemos, e como utilizar de uma forma mais optimizada os recursos que já temos ao nosso dispor para ciclos mais fluídos e harmoniosos. 

Parte 1 ALQUIMIA: LIXO EM OURO

Parte 2 FLUIDEZ: A NATUREZA GOSTA DE BEBER COM AMIGOS

1. ALFOMBRA OU MULCH – TAPA O TEU SOLO!

2. OLLAS

3. CONSORCIAÇÃO DE PLANTAS

 

Permacultura oferece não só os princípios éticos para nos guiar para uma vida mais sustentável, mas também as técnicas práticas congruentes a elas, para que possas aplicar no terreno todas as coisas lindas que dizemos sobre a Natureza: que devemos protegê-la, que o nosso estilo de vida pode ser mais sustentável, que devemos reciclar mais, produzir menos lixo e poluição, produzir (pelo menos alguns) dos nossos alimentos e ser menos consumistas, satisfazendo algumas das nossas próprias necessidades, etc

Mas COMO é que protegemos a Natureza? Falar é fácil, mas quais as AÇÕES que podemos tomar no nosso dia-a-dia, que sejam simples, que nos ponham a proteger a Natureza? A ter um estilo de vida mais sustentável?

Nós acreditamos que não são as grandes mudanças que fazemos uma vez, mas as pequenas ações que tomamos todos os dias que realmente fazem a diferença. Significa, pelo menos para nós, que o primeiro sítio onde se podem tomar pequenas ações nesse sentido é em casa.

 


 

Um dos recursos que mais temos de valorizar optimizando ao máximo é aquele ouro líquido transparente chamado H2O: Água

Nós somos apenas um reflexo de como a Natureza opera. ÁGUA é um recurso obviamente essencial, tanto para nós como para as plantas das nossas hortas – mas sabias que as plantas também precisam de amigos por perto? É sempre melhor beber com amigos, e nesta parte 2 vais ver que se juntares essas duas coisas, como a Natureza faz, vais entrar em maior fluidez com as tuas práticas na horta.

O Verão de 2017 vai ser QUENTE e SECO. Já começam as preparações para tentar irrigar o país, e a nuvem negra de fumo dos Incêndios florestais (se é que se possa chamar de uma monocultura de eucaliptos uma floresta) aproxima-se.

Também vêm aí as férias. Como é que podemos manter os nossos espaços irrigados quando está tudo tão quente e seco, poupando água ao máximo, e podendo ir passar uns dias fora sem arriscar voltar para uma horta morta?

 

 

 

1. ALFOMBRA OU MULCH – TAPA O TEU SOLO!

Um dos métodos pelo qual me apaixonei quando descobri a permacultura é o conceito de alfombra – ou cobertura de solo. O termo “técnico” em inglês é mulch.

Pensa comigo:

Quando, na Natureza, é que vês enormes extensões de terra expostos e sem ervas daninhas? Em areais, praias e desertos.

No mundo natural, são raros os casos em que a Natureza não cubra cada milimetro de solo com vegetação, e não é por acaso.

Não é por acaso que a Natureza cobre o solo do planeta – ela é muito poupada nos seus recursos mais preciosos – e água e vida no solo são MUITÍSSIMO preciosos.

 

A crosta terrestre é como a pele do planeta, e se estiver sempre exposta aos raios solares, principalmente no verão, seca muito mais rapidamente e queima.

Tal como a nossa pele, queremos mantê-la hidratada, e protegida dos raios solares nocivos.

No Outono, a própria Natureza encarrega-se de tapar o solo com as folhas de caem das árvores para evitar que o solo seja levado pelas enchurradas de água da chuva, e age também como manta para proteger das temperaturas mais baixas da atmosfera.

Ao livrar-nos das ervas daninhas, ao sachar entre as culturas, ao ter a terra sempre exposta ao elementos, estamos a prejudicar-nos sem sabermos:

  • Perdemos terra à erosão porque não há raizes a segurá-la;
  • Perdemos a biodiversidade na terra que nos dá a terra fértil que precisamos para as culturas porque torram todas ao sol;
  • A terra seca muito mais depressa, perdemos água à evaporação, e temos que regar muito mais e mais vezes – e muita dessa água nem chegará às plantas – o sol vai fazê-la desaparecer antes disso.

 

Ao taparmos a terra estamos a imitar os processos naturais.

Quando tapamos cada centímetro do chão da nossa horta, isto é o que acontece:

  • Poupamos até 70% a água de rega, porque a cobertura de solo está a proteger a terra da evaporação – por baixo dessa cobertura estará sempre escuro e húmido, ambiente perfeito para as nossas plantinhas e para a biodiversidade do solo.
  • Estamos a poupar a terra dos elementos, como o vento e águas forte, e evitando perda de terra por erosão e lixiviação.
  • Estamos a contruir solo e fertilidade, pois essa cobertura de solo vai se decompondo e criar matéria orgânica fantástica, aumentando a camada fértil e fofa de solo à superficie, que nos poupará trabalho no futuro, pois, com terra assim, já não é necessário lavrar.
  • Podemos mesmo evitar o aparecimento de ervas daninhas com uma camada espessa de alfombra, desde que a alfombra em si não contenha sementes.

 

O material que se usa para mulch ou alfombra é do mais variado, desde palha, às ervas daninhas que tiras da horta, casca de pinheiro, caruma, folhagem das árvores, seixos e pedras, etc. Gosto de recolher o meu mulch localmente. No Verão, isso significa palhas e ervas daninhas, e no Outono, folhas mortas.

Diferentes tipos de alfombra podem ser utilizados na horta, como mostra esta ilustração, cortesia de Mother Earth News

Para evitar que as sementes da palha que corto vão parar e crescer na horta, não a coloco diretamente na horta assim que a corto – empacoto-a bem apertada (como seria num fardo de palha) numa rede, rego-a, e deixo todas as sementes germinar – depois viro a pilha ao contrário. Vou fazendo isto até ter palha semi-decomposta, os rebentos todos terem morrido, e assim sei que as sementes que iam germinar já não tomarão conta da minha horta quando colocar essa palha a tapar o solo – além disso, todas as sementes que germinaram e morreram impregnaram a palha com hormonas de crescimento que ajudarão a minha horta!

 

Existem, que eu saiba, 3 tipos de alfombra.

  • MULCH SOLTO – a cobertura de solo composta por matéria solta – a que mencionámos acima;

 

  • ADUBO VERDE – Cultura no local de cobertura de solo verde (ou seja, viva), que também serve a função de adubo. Um exemplo excelente de adubo verde ou cobertura de solo viva é a cultura de trevo – cobre o solo de forma rasteira, servindo todas as funções esperadas de uma alfombra, mas também contribui com uma excelente dose de azoto para o solo e as plantas quando é cortado. Podes ver aqui mais pormenores como o trevo pode ser utilizado como cobertura de solo numa policultura biológica – basta procurares no artigo a secção detalhada sobre esta planta espetacular.

 

  • SHEET MULCH – cobertura em folha, ou seja, cobertura normalmente feita de cartão que se coloca diretamente no chão, como base para atrofiar ervas daninhas e impedir que tomem conta da horta que será feita por cima. Serve como base para camas elevadas, por exemplo.

Sheet mulch é mais frequentemente conhecido como aquele plástico preto que tapa o solo todo na agricultura convencional – o problema que eu vejo com esses plásticos é que

  • tens que gastar dinheiro para o ir buscar enquanto o mulch orgânico é de graça (ou quase de graça se quiseres comprar fardos de palha sem semente);
  • sendo geralmente plástico preto, este aquece imenso o solo por baixo e, enquanto servem a sua função de evitar crescimento de ervas daninhas, também obriga a uma irrigação mais intensa,

 

O Mulch de folha de cartão também evita o aparecimento de ervas daninhas enquanto se estabelece a horta, mas

  • sendo biodegradável, não estará lá para sempre – vai-se decompor e fazer parte da terra da tua horta ou cama elevada – e será, por isso, substituida pelo mulch de palha ou folhas para continuar o trabalho de controlar as ervas daninhas.
  • Não aquece demasiado o solo – pelo contrário, mantendo o mulch de folha bem húmido, ele agirá como uma esponja e ajudar-te-à a manter níveis de humidade ideais dentro do solo.
  • É de borla – faz parte do nosso processo caseiro de reciclagem – qualquer cartão mais espesso servirá para mulch de folha – desde que não tenha muitas tintas impressas e retires quaisquer bocados de plásticos e fita-cola antes de utilizar.

Camada mais funda à mais superficial da esquerda para a direita: Alfombra de folha como base para supressão da vegetação existente, contrução da horta ou canteiro em cima do cartão, e alfombra solta para proteger o novo solo e futuras culturas.

O mesmo método de construção de uma horta que na imagem anterior, transformando um relvado em canteiros produtivos. A alfombra de folha – o cartão – também cobre o que serão os caminhos da horta.

 

 

 

5. OLLAS

Este processo intrigou-nos. Tanto, de facto, que entrámos em contacto com um casal local de oleiros para nos fazerem OLLAS (pronuncia-se oias).

É um método ancestral de irrigação que utiliza potes de barro arredondados para libertar água para a terra à medida que ela é necessária. Ainda hoje em sítios como México, Irão e Afganistão usam esta técnica – e se em sítios áridos como esse ainda usam este método, é porque funciona.

O conceito é simples:  barro cozido não é vitrificado, é deixado no seu estado natural, o que significa que é poroso – enterra-se na terra deixando apenas o gargalo à superfície. Enche-se o pote com água e coloca-se a tampa. Por ser poroso, o pote vai transpirar essa água – ela vai atravessar a parede de barro para a terra circundante.

As plantas irão colocar as suas raízes em redor das paredes de barro à busca de água, e elas mesmas irão causar um efeito de sucção que irá puxar a água de dentro do pote para a raiz no exterior à medida que precisam – o que significa que quase 100% da água é de facto utilizada pela planta, quando ela precisa dela, visto que é ela mesma que a vai buscar ao pote.

Dependendo do tamanho do pote, quantos litros pode levar e as necessidades hídricas das plantas em redor, podes encher os potes com água e será irrigação suficiente durante 2-10 dias (mais uma vez, depende de quantas ollas tens, que espaçamento há entre elas, as necessidades das plantas e quantos litros cada olla pode levar). Isto significa que podes passar um fim-de-semana fora descansado que a horta terá a sede saciada enquanto estás fora.

Iremos brevemente traduzir um artigo muito interessante sobre ollas, mas para já podes consultar o original em inglês aqui.

 

 

 

6. CONSORCIAÇÃO DE PLANTAS

Já falámos do beber da preciosa água e como usar este recurso ao máximo e com o mínimo de desperdício e trabalho desnecessário.

Agora aos amigos.

Sabes quando vamos a um casamento, e toda a gente já tem os seus lugares designados pelos noivos? Eles decidiram quem se ia sentar ao pé de quem, porque se o Tio Alberto estiver num raio de 20 metros do Tio Zé, os noivos já sabem que vai haver confusão. Também sabem que se juntarem os primos Silva na mesma mesa, que vai ser uma festa do caraças.

“Ok, Janet, tu não suportas a tua irmã, por isso sentas-te aqui. Jason, tu achas a Teresa uma idiota por isso vais te sentar à minha esquerda…”

 

Com as plantas passa-se o mesmo. Algumas competem umas com as outras, ou impedem o desenvolvimento uma da outra, e outras cooperam entre si, ajudando-se a crescer.

Uma consorciação de plantas bem feita pode ajudar imenso a dinâmica de todos os seres vivos da horta para que trabalhem em sintonia.

  • Podemos evitar o aparecimento e propagação de pragas: Nós colocamos as nossas cebolas em redor das couves para evitar pragas de lagartas, por exemplo, ou cravos-túnicos debaixo dos tomateiros para evitar o aparecimento de pragas no tomate.
  • Podemos aumentar a produção das culturas ao emparelhá-las adequadamente: a camomila, emparelhada com aromáticas que produzem óleo, como oregãos, rosmaninho ou salva, aumenta a produção desses óleos. Camomila é conhecida como “a médica das plantas”.
  • Podemos atrair insetos benéficos: a combinação de pastinaca e aspargo atrai joaninhas para o teu jardim;
  • Podemos gerir melhor o espaço da horta: ao combinar plantas que ocupam espaço de forma diferente faz com que mais plantas possam viver harmoniosamente em menos espaço – como ter bróculos intercalados com alfaces: crescem melhor juntas do que separadas, o bróculo cresce mais na vertical e a alface tapa o solo mais à superfície não competindo por espaço;
  • Podemos gerir melhor os nutrientes do solo: Ao juntar, por exemplo, leguminosas (que libertam o bem querido AZOTO depois da colheita) a cereais – que sugam muitos nutrientes, podemos manter um certo equilibrio nutricional no nosso solo. Ao colocar plantas que precisam das mesmas coisas ao mesmo tempo, elas irão competir umas com as outras para adquirir esses nutrientes e teremos excesso de outros que não estão a ser utilizados por essas espécies.
  • Podemos evitar assim a exaustão do solo e fazer uma agricultura intensiva sustentável com rotação de culturas apropriada.

Aqui estão alguns guias de consorciação de plantas em Inglês – vai espreitando o blog ou subscreve à nossa newsletter semanal para receberes uma lista de consorciação traduzida para português que estamos a compilar e iremos lançar assim que estiver pronta.

Listas de Consorciação de Plantas

 

To be Continued….

 [PARTE 3] – BREVEMENTE

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