Ollas: Potes de Barro para Irrigação de Jardins e Hortas

[vc_row][vc_column][vc_message css_animation=”rollIn”]Temos o prazer e a honra de ter autorização do Permaculture Research Institute para traduzir para PORTUGUÊS o conteúdo fantástico que eles disponibilizam no blog deles. Achamos o conteúdo deles valiosíssimo e achamos que mesmo quem não sabe Inglês MERECE ter acesso a esta informação. Espero que gostes.

Artigo original em inglês por Kevin Bayuk[/vc_message][vc_column_text]

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Um aldeão de Sri Lanka enche a sua olla Photo copyright © Craig Mackintosh

 

Cruzei-me inicialmente com este conceito de utilizar potes de barro não vitrificados para irrigação subterrânea na série de fime “O Jardineiro Global” de Bill Mollison. Mollison comenta que esta técnica pode ser. para parafrasear, “o sistema de irrigação mais eficiente do mundo.” Mais recentemente reparei com interesse que as belas gentes do Path to Freedom  estavam a utilizar estes potes de barro nalgumas das suas camas elevadas, o que me levou a questionar como poderia experimentar com ollas como um potencial sistema de irrigação subterrâneo. Aqui está o que descobri…..

ollaOllas (pronuncia-se “oias”) são potes de barro/argila/terracota não vitrificados, de gargalo estreito, que são entrerrados no solo com o gargalo exposto acima da superfície e cheios com água para irrigação das plantas abaixo da superfície. Esta tecnologia de irrigação é um método ancestral, estimando-se que tenha originado no Norte de África, e com provas de ter sido utilizado na China durante 4000 anos, e ainda é utilizado actualmente em vários países, nomeadamente India, Irão, Brazil (Bulten, 2006; Power, 1985; Yadav, 1974; Anon, 1978 and 1983) e Burkina Faso (Laker, 2000; AE Daka, 2001).

Ollas podem ser o método de irrigação da flora local em climas áridos mais eficiente que a Humanidade conhece devido às paredes microporosas (não-vitrificadas) que “não permitem que a água flua livremente do pote, mas guia a inflitração da água na direção onde existir o desenvolvimento de sucção. Quando enterrado até ao gargalo no solo, ollarootscheio de água, e com plantas adjacentes a este, o pote de barro surte efeito de irrigação subterrânea à medida que água exsude deste, resultante da força de sucção que atrai as moléculas de água às raizes das plantas. A sucção é criada pela tensão da humidade do solo e/ou pelas raízes das plantas em si.” (AE Daka – 2001.) As raízes crescem em torno dos potes e apenas “puxam” humidade à medida que esta é necessária, nunca desperdiçando uma única gota. “Ollas virtualmente eliminam o escoamento e evaporação comuns em sistemas de irrigação modernos, permitindo a planta absorver quase 100% da água.” (Conservação de Água da Cidade de Austin, 2006.)

Para usar ollas no jardim, horta ou quinta, enterra-se a olla no solo deixando o gargalo ligeiramente acima da superfície (idealmente o gargalo da olla é vitrificado para evitar perda de água por evaporação ou pode ser razoável aplicar uma alfombra (ou mulch) que cubra o gargalo da olla sem que entre dentro do pote). A olla é cheia de água e a abertura é tapada (com uma pedra, tampo de argila ou qualquer outro material disponivel para evitar mosquitos, intrusão do solo e evaporação.)

ollaneck_buried“Dependendo de factores tais como as necessidades hídricas das plantas, tipo de solo, estação do ano, e ambiente, ollas podem necessitar de ser cheias de água semanalmente, ou diariamente. Água geralmente demora entre 24 e 72 horas para fluir através da olla.”(Bulten, 2006) Água deve ser adicionada à olla sempre que a quantidade cair abaixo dos 50% para evitar o acumular de resíduos de sais minerais ao longo da superfície da olla que pode impedir a desejada infiltração.

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Olaria e Produção de bens de cerâmica é um arte artesanal ancestral e uma indústria “low-tech” doméstica que deve ver um renascimento. Photo copyright © Craig Mackintosh

 

Quando avaliada no contexto de um movimento para independência local, as vantagens das ollas parecem surpreendentes (a seguinte lista é fornecida pela investigação por AE Daka):

  1. Visto que potes de barro são [podem ser] fabricados por mulheres [e/ou homens] de áreas rurais, estes podem criar emprego e oportunidades para indústrias domésticas em pequena escala para manufactura destes em zonas rurais. Isto poderá geral rendimento rural e ajudar a assegurar fonte de alimento doméstico.
  2. Não são caros [quando localmente produzidos em zonas rurais].  Um pote de barro de 5L custa US $0.25.
  3. Irrigação por potes de barro permite um agricultor fazer sementeira in situ em vez de as transportar de um viveiro. Potes de barro são instalados diretamente onde as mudas serão plantadas e isto permite o agricultor semear a semente perto do pote de barro onde germinará e se estabelecerá.
  4. O sistema é adequado para vegetais assim como pomares hortícolas perenes ou culturas de plantação e áreas arborizadas [( é de notar que plantas com crescimento de raízes perenes lenhosas podem e provavelmente irão quebrar as ollas, mas estas podem ser utilizadas para estabelecimento de sistemas perenes)].
  5. Poupança de água de 50-70% são conseguidas, particularmente para culturas hortículas. Perda de água devido a filtração para lá da área das raízes é reduzida, se não evitada de todo.
  6. Humidade no solo está sempre disponível na capacidade do campo dando às culturas total segurança perante stress por falta de água.
  7. O sistema inerentemente evita excesso de irrigação.
  8. As imensamente menores quantidades de água e frequência de regas necessárias reduzem tremendamente o trabalho necessário para irrigação.
  9. Muito menos trabalho é necessário na monda de ervas daninhas, visto estas não prosperarem, pois a superficie do solo permanece seca durante a estação de cultivo.
  10.  Efluentes de águas domésticas [águas cinzentas] das cozinhas podem ser facilmente recicladas e utlilzadas na irrigação por potes de barro em quintais. A água utilizada para limpar utensílios na cozinha pode ser usada para re-encher os potes num quintal, pequena horta ou jardim. Poupa-se assim em água quando esta escasseia e reduz a necessidade de utilizar água doce.
  11. Poupa na quantidade de fertilizantes a aplicar [alguns estudos sugerem uma redução de até 50%] por unidade de área de terreno se o fertilizante for aplicado nos potes de barro e é depois absorvido como solúvel via movimento da água para as plantas.
  12. O solo sob o sistema de potes de barro não compacta pelo impacto da água mas permanece solto e bem arejado.
  13. As ollas podem ser instaladas em solo ondulante e acidentado.

[/vc_column_text][vc_column_text]Algumas das desvantagens das ollas incluem a probabilidade de se quebrarem no inverno se deixadas no subsolo em áreas onde haja risco de congelamento de inverno – “a nossa pesquisa revelou danos em algumas ollas (em centenas) quando deixadas enterradas no solo durante o Inverno.” Bulten, 2006. Claro, para hortas em climas temperados, extrair as ollas do solo pode ser considerado manutenção padrão da horta. Uso prolongado provavelmente reduzirá a porosidade, alguns solos pesados (muito argilosos) podem ser inapropriados para situar ollas e a longevidade das ollas (sem geadas ou gelo) é desconhecida mas estimada num estudo de ser 5 anos ou mais. Além disso, apesar das alegadas eficiências, e o longo historial de uso e simples requerimentos de produção (mais abaixo), ollas são dificeis de encontrar localmente, e podem ser, especialmente no opulento mundo “hiper-regularizado”, proibitivamente caros de trazer. Finalmente, parece existir investigação contraditória e insuficiente no que diz respeito à melhor forma, volume e materiais para ollas.

 

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Potes de barro, como estes em Sri Lanka, podem também ser utilizados como refrigeradores de água em climas áridos. Vê “Um Refrigerador que Funciona Sem Eletricidade” para ver como funciona. Photo copyright © Craig Mackintosh

 

ollas_shapeO consenso da investigação existente é que o tamanho e forma ideal para a olla está dependente das plantas a ser irrigadas. Não existem estudos existentes nas consequências de utilizar ollas numa policultura densa. Deve-se “corresponder a porosidade, tamanho e forma da olla às necessidades hídricas das plantas, dimensão e distribuição das raízes.” (Conservação de Água da Cidade de Austin, 2006.) “Como guia geral, ollas mais pequenas são boas para jardins de vaso. As ollas maiores são melhores para vasos grandes ou para aplicações exteriores no solo.” (Bulten, 2006.) Intuitivamente, um recipiente mais afunilado, de fundo achatado, e gargalo estreito (para reduzir evaporação e contaminação) devem ser mais eficiente devido a uma maior área de superfície e teoricamente um aumento da alastração de água, permitindo um menor número de ollas a ser utilizadas para irrigar suficientemente uma maior área. Capacidades de 5L a 12L têm sido relatados, com volumes de 10-12L a ser utilizados para irrigar culturas de videiras (tomates, cucurbitáceas, vinhas, etc.). Mais investigação empírica será benéfico para a comunidade global.

Similarmente, estudos existentes não são claros no espaçamento ideal das plantas em redor das ollas. Claramente, espaçamento será dependente na forma e dimensão das ollas, isso não surpreende. Baseado em pesquisa existente as seguintes tabelas podem ser criadas para descrever o potencial espaçamento das ollas baseado numa estimativa geral da alastração da água.

calculos ollasAdicionalmente, John Bulten proporciona as seguintes notas e diagrama:

“Semear ou plantar mudas dentro de 5 – 13 centímetros de raio baseado no tamanho da olla.”

diagrama ollasNum outro estudo, “potes de barro com capacidade de 5 litros cada e fabricados por mulheres rurais foram instalados a intervalos de 0.5 m nos terrenos de estudo enterrando-os até ao gargalo nas camas de sementeira.” (AE Daka – 2001.)

ollagardenParecem existir abordagens semelhantes, mas distintas, no fabrico de ollas, maioritariamente definidas pela disponibilidade local de matéria-prima e tecnologia. Incluí descrições palavra-a-palavra da produção de ollas com o intuito de reunir um conjunto solto de guias para informar artesãos locais a inventar uma abordagem apropriada para a área da Baía de S.Francisco (ou onde quer que a manufactura de ollas esteja a ser tentada):

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Ollas em Sri Lanka
Photo copyright © Craig Mackintosh

“Maria criou os seus muito apreciados potes negros usando o fundo de um velho prato (puki)…. começando por bater uma peça de argila numa tortilla no puki, Maria depois rola um pedaço de barro entre as palmas das suas mãos, criando uma longa corda de barro de grossura uniforme. Beliscando e apertando este rolo na tortilla enquanto vira o seu puki com a outra mão, Maria forma a base da olla. Camadas sucessivas de rolos foram adicionados até o recipiente estar completo.”(Hoxie)

“Para fazer as urnas, o ministério criou moldes de gesso a partir de abóboras e cabaças de diversos tamanhos. Trabalhadores despejam argila líquida dentro dos moldes para formar as urnas e cozem-nas no forno para solidificar o barro. As urnas são vendidas por 12$ a 15$ dependendo do tamanho.” (Conservação de Água da Cidade de Austin, 2006)

“Os potes de cerâmica são feitos de uma mistura de argila e areia na proporção de 4 para 1 e com uma porosidade efetiva entre os 10-15%. Os potes de barro são feitos por mulheres do campo usando as suas mãos para os moldar em formas diferentes, ex: cilídrico/arredondado com um fundo algo achatado. Depois de feitos, vitrificação não é efectuada para manter a sua porosidade natural – as paredes permanecem micro-porosas. Os potes são depois temperados cozendo-os numa fogueira escavada a uma temperatura indeterminada. Manufacturas de cerâmica a pequena escala usam fornos para cozer os ditos potes de cerâmica a 1200ºC. Isto é feito de forma a eliminar as propriedades de expansão e contração da argila, que poderia causar rachas nos potes. As mulheres acreditam que o tipo de argila usada para fabricar os potes é muito importante e requer uma mulher mais velha e experiente para identificar argila que não rache indevidamente durante o processo de cozedura e de facto quando instalado nas condições do campo.” (AE Daka – 2001)

ollaberries“Se potes apropriados não estiverem disponíveis, podem ser facilmente feitos à mão ou numa roda de oleiro. Dependendo da argila, areia, cascas de arroz, ou serradura pode ser adicionada numa proporção de 1:4 para aumentar a porosidade dos potes. Apesar de cozeduras a forno fechado excedendo os 450ºC é ideal, potes podem ser cozidos em fogueiras ao ar livre a temperaturas de 200-300ºC. Abertura: gargalo estreito (reduzir tamanho da abertura para reduzir evaporação e contaminação) (Barak, 2006).

Composição: Argila porosa não vitrificada – podes usar uma argila rude, que possui uma mistura de particulas de maiores dimensões e não é pura, que resultará em maiores poros durante o processo de cozedura. Ou podes misturar 20% areia com 20% argila de qualidade (a melhor opção) ou a mesma percentagem de cascas de arroz ou serradura. O processo de cozedura irá, claro, queimar o enchimento deixando poros uniformes e um pote de alta qualidade. (Barak, 2006)

Os potes que eu uso são de argila de pouca qualidade com uma temperatura de cozedura baixa, e portanto mais vulneráveis a quebrarem e/ou tendo poros que transmitem água muito rapidamente. Pelo melhor que consigo ver, eles usam argila vermelha rude com impurezas de areia e alguma palha misturada (provavelmente menos de 20%) e são cozidos provavelmente a cerca de 427ºC, que é a média da temperatura atingível em fornos de fogueira ao ar livre.” (Barak, 2006)

Este video mostra uma técnica de roda de oleiro:

Este video mostra uma técnica diferente:

Alguns Links e Referências:

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